quinta-feira, 9 de julho de 2009

Exército abre hoje base militar no Sul do Pará

Expedição vai se espalhar por quinze pontos do Araguaia pela primeira vez desde o final da Guerrilha do Araguaia, em 1975, o Exército abre hoje uma base militar em atividade para o reconhecimento de locais de sepultamento de corpos de integrantes do movimento de resistência à ditadura militar (1964-1985), ocorrido no sul do Pará. Com apoio dos próprios militares, uma equipe de legistas estará de manhã na Base de Treinamento Cabo Rosa, a dez quilômetros do centro de Marabá.

A expedição é a primeira de uma série que vai se espalhar por 15 pontos da região do Araguaia definidos hoje. A operação de busca de corpos de guerrilheiros foi montada pelo Ministério da Defesa para cumprir uma decisão da juíza Solange Salgado, que cobrou da União a localização das ossadas.

A expedição, chefiada pelo General Mário Lúcio Alves Araujo, irá mapear uma área de selva da base de treinamento. Para se chegar ao local, o grupo fará uma caminhada de uma hora e meia na floresta. O nome da base é uma homenagem ao Cabo Odylio Rosa, morto pelo grupo do guerrilheiro Osvaldo Orlando Costa, o Osvaldão, em maio de 1972.

Hoje, o grupo de militares e legistas visitou as dependências da extinta Base Militar da Casa Azul, um complexo de 17 mil metros quadrados, em Marabá. Os legistas pretendem escavar, a partir de agosto, uma área nos fundos do comando da base.

Também foram vistoriados três cemitérios oficiais e um clandestino no município. Os legistas disseram que só serão feitas escavações em pontos determinados dos cemitérios. Os especialistas dizem que o trabalho é complexo, pois há risco de violação de túmulos de moradores sem relações com o conflito entre guerrilheiros e militares.

O cemitério São Miguel, aberto em 1911, é um dos locais em que poderão ser feitas escavações. A equipe de legistas descartou uma nova visita a dois cemitérios inaugurados após a guerrilha e um outro que funcionava até os anos 1960 numa área ocupada hoje pela Infraero. Por acaso, a expedição revelou um capítulo pouco comentado da história da região.

O cemitério clandestino era usado por pobres para enterrar seus parentes e amigos. Não há registros e dificilmente se saberá quantas pessoas sem identificação foram sepultadas no local a poucos metros da pista de pousos e decolagens do aeroporto de Marabá. O vigilante Sandoval Rodrigues de Souza, de 59 anos, disse que o cemitério deixou de funcionar em 1966, seis anos antes dos primeiros combates entre militares e guerrilheiros. Sempre comedido nas palavras e evitando polêmicas ideológicas e históricas, o general Araujo disse que o trabalho de logística e apoio ao grupo de especialistas ocorre dentro do que estava previsto.

"Todos os dias vamos avançar, porque estamos no terreno, olhando os locais e conversando com pessoas que conhecem a região", disse, numa referência a camponeses que estão dando informações ao grupo. Representante do governo do Pará na expedição, Paulo Fonteles Filho avaliou que o momento histórico atual é favorável ao trabalho da equipe.

Ele lembrou que as expedições de buscas de corpos feitas nos anos 1990 foram no "limite". "Agora há uma decisão da juíza Solange Salgado", observou. "Vejo que há uma necessidade de resolver o problema, inclusive dentro das Forças Armadas." (Agência Estado)

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